A homofobia se educa!
Publicado pelo Uebi
Texto de Eliseu Neto.
O Brasil teve um aumento de 40% nos crimes de homofobia em 2012. Temos debatido no comitê de cidadania LGBT carioca se houve um real recrudescimento do ódio ou se simplesmente nossas campanhas surtiram efeito e as pessoas têm denunciado mais.
Meu olhar, via consultório e redes sociais, é que o aumento da visibilidade dos LGBTs e a utilização do embate por líderes pseudoreligiosos ou “deputados federais que não tem projeto mas adoram um grito na tribuna” têm feito com que as pessoas se posicionem, para o bem ou para o mal. Infelizmente, no país que está em 40º lugar numa lista de 41 em educação, muitos se posicionam através do ódio, da intolerância e da ignorância.
Desse aumento, 30% foi na violência dentro da própria família, o que é de uma crueldade atroz: qualquer outra minoria, ao ser humilhada, tem na família suporte; o gay é o único que apanha na rua e apanha de novo em casa por ser “viadinho”. Lembro do caso de um garoto de 15 anos que me relatou ano passado durante minha campanha para vereador, que o pai fez com que ele queimasse toda a sua coleção livros da série americana “Crepúsculo” (“Twilight”) pois ele os considerava “coisa de bichinha”.
Outros 30% do aumento da homofobia no país, pasmem, foram registrados na escola. O ambiente; que deveria ser apropriado para a formação do cidadão, com exemplos nos quais o jovem possa se espelhar, tornou-se um lugar do ódio, da agressão. O índice de suicídio de jovens gays é 3 a 7 vezes maior que o de jovens heterossexuais. E isso tudo ocorre apesar da Lei de Diretrizes e Bases da educação brasileira, que define:
Art. 1º. A educação abrange os processos formativos que se desenvolvem na vida familiar, na convivência humana, no trabalho, nas instituições de ensino e pesquisa, nos movimentos sociais e organizações da sociedade civil e nas manifestações culturais. (LDB)
A figura do orientador educacional ou do psicólogo escolar (praticamente) sumiu da educação, inclusive de alguns colégios privados. A escola virou uma “máquina de passar em provas” e deixou inteiramente de lado a ideia de formação do cidadão e do combate ao ódio. Abandonou a perspectiva de ser um espaço de diversidade e discussão sobre direitos civis.
Em tempos em que professores vêm sendo espancados por brigarem pela educação, esse texto parece uma utopia, mas acredito que dentre as mudanças que deveríamos estar todos exigindo está uma escolar que realmente forme “gente”.
E quando falo “gente”, quero dizer o ser humano que entende que a imagem de dois homens se beijando não deveria chocar uma criança e sim ser vista como necessária ao seu aprendizado sobre diversidade; que ver o diferente, o novo, aquilo que não é comum é a concepção mais própria de educação.
Espero que neste debate haja espaço para ser trabalhada a ideia de que a escola deixe de ser um dos maiores locais de propagação de ódio, da intolerância e da homo(trans)fobia.
Devemos preparar os professores como profissionais capacitados para lidar com a sexualidade e ter na escola um espaço de esclarecimento e formação dos nossos jovens para o futuro do país (que hoje detém o troféu em número de mortes de homossexuais e trans).
Tenho noticia de que a ONG Arco-Íris e a Secretaria Estadual de Educação do Rio de Janeiro vêm organizando um projeto (nesse sentido). Nós, do comitê LGBT carioca, também temos pensado o nosso. Que surjam muitos mais projetos, que as entidades nos apoiem e que possamos mudar um pouco o nosso Brasil .
“Educar verdadeiramente não é ensinar fatos novos ou enumerar fórmulas prontas, mas sim preparar a mente para pensar.” Albert Einstein
Gaviões X Gaivotas
Gaviões da Fiel acusa de plágio a torcida corintiana gay Gaivotas Fiéis.
Símbolo da Gaviões da Fiel (à esquerda) e da Gaivotas Fiéis (à direita): maior torcida do Corinthians acusa a versão gay de plágio
Fonte: G1
A Gaviões da Fiel, maior torcida organizada do Corinthians (com 98 mil associados), acusa de plágio a Gaivotas Fiéis, torcida gay do clube de futebol criada há dois meses.
A Polícia Civil de São Paulo apura a denuncia e investiga se o responsável pela Gaivotas cometeu crime contra registro de marca ao imitar o nome e os símbolos da Gaviões sem autorização. O criador da Gaivotas, o jornalista e apresentador Felipeh Campos, de 39 anos, que é gay assumido e se declara corintiano 'roxo ou cor-de-rosa', negou ter plagiado a Gaviões.
Além de fazer alusão ao nome Gaviões da Fiel, a Gaivotas Fiéis tem outros símbolos que remetem à torcida mais famosa. Na nova versão, há uma gaivota no lugar de um gavião segurando o emblema do Corinthians. Os remos dão lugar a pincéis de maquiagem e a âncora é um suporte para espelho. Dentro dele aparece a bandeira do estado de São Paulo, mas com as cores do arco-íris, numa menção ao grupo LGBT (sigla para Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Transgêneros).
“Ingressamos com uma petição hoje requerendo instauração de inquérito policial porque entendemos que esse cidadão que criou a Gaivotas Fiéis incorre em crime ao induzir a população a confusão com a marca Gaviões da Fiel”, disse nesta quarta-feira (23) um dos advogados da Gaviões, Ricardo Cabral.
“Ele está imitando a nossa marca de modo indevido. Imita a Gaviões tanto no nome quanto no logotipo, dando a entender que Gaivotas Fiéis podem ser extensão da própria Gaviões da Fiel, o que não é verdade”, explicou Cabral.
Segundo ele, a Gaviões não está contra a comunidade gay, apenas não concorda com o uso de sua marca sem autorização. “Não temos nada contra ele abrir uma torcida gay do Corinthians. O que a gente não quer é que ele use de plágio com o nome da instituição Gaviões, que tem 44 anos de existência, para confundir o consumidor”, argumentou o advogado. “Espero que quem criou essa torcida, não use mais o nome Gaivotas da Fiel e nem os nossos símbolos copiados”.
Questionado se a Gaviões pretende criar uma versão gay da sua torcida, Cabral foi enfático. “A Gaviões não tem intenção em fazer torcida gay. Não somos contra e nem a favor”.
De acordo com o delegado Fulvio Mecca, assistente do 1º Distrito Policial de Guarulhos, na Grande São Paulo, que recebeu a denúncia do departamento jurídico da Gaviões, ela será investigada.
Polícia
“A polícia investiga a denúncia de plágio da marca Gaviões da Fiel. A acusação é que estão usando indevidamente e sem autorização os símbolos da Gaviões e do próprio Corinthians”, disse o delegado Fulvio Mecca. “O plágio, nesse caso, se caracteriza por usar marca sem autorização ou imitar e induzir a confusão. A reclamação da Gaviões é em relação a essas cópias”, afirmou.
Segundo Mecca, o próximo passo da investigação será o de chamar a Gaviões e a Gaivotas para serem ouvidas. De acordo com a petição encaminhada pelos advogados da Gaviões ao 1º DP, a Gaivotas cometeu crime contra a propriedade industrial, pelo o artigo 189, inciso 1º, segunda parte, da Lei nº 9.279/1996, dos Crimes Contra Marcas.
Segundo a resolução, comete crime quem imita a marca “de modo que possa induzir confusão”. Se for considerado culpado, o autor pode ser condenado pela Justiça a pena de detenção de um a três meses ou multa.
No documento, a Gaviões alega que tem 44 anos de história e a sua marca está registrada no Instituto Nacional de Propriedade Industrial (Inpi) e que “foi surpreendida com a criação de uma marca a qual se assemelha muito com a sua”.
“Dessa forma, a denominação ‘Gaivotas Fiéis’ aliado ao seu logotipo são extremamente assemelhados com os de nossa agremiação, fazendo alusão e incorrendo em manifesta confusão com relação a marca ‘Gaviões da Fiel’, de modo que incorre em crime, uma vez que manifesta similitude fonética e visual entre as marcas da mesma categoria (Torcida Organizada do Sport Clube Corinthians Paulista, suficiente para gerar confusão induzindo o consumidor em erro, explorando indevidamente o prestígio de marca alheia, fazendo parecer que a mesma seria uma extensão da Agremiação Gaviões da Fiel Torcida”, diz trecho do pedido feito pelos advogados Ricardo Cabral e Davi Gebara Neto.
Gaivotas Fiéis
Felipeh Campos, criador da Gaivotas Fiéis, negou ter plagiado a Gaviões da Fiel. "Em primeiro lugar: o distintivo do Corinthians não é da Gaviões. Não é de torcida nenhuma. Eu posso usar o distintivo da forma que quiser. Eu não estou copiando nada. Não é um gavião é uma gaivota", afirma Campos.
"Eles querem meu pincel emprestado? Eu empresto”, disse, ele que chegou a dar entrevistas à imprensa neste mês sobre a criação da torcida. “Não foi um plágio. O jurídico da Gaviões devia tomar cuidado com agressões nos estádios. Se eles querem me processar por uma coisa pequena, eu acho hipocrisia. Consultei um advogado, a torcida que criei tem até estatuto”, disse.
“Eu não estou fazendo isso para incitar nenhuma torcida. Quero inserir os gays nos estádios de futebol. Um dia quiseram bater em um colega gay meu, que é jornalista, e estava trabalhando na cobertura de um jogo. O conceito da Gaivotas Fiéis é gay, mas não será uma torcida preconceituosa ao ponto de vetar mulher, heterossexual e criança.”
“Alguém precisa levantar a bandeira. Se eu morrer, eu morro feliz. Não tenho medo. Se eles quiserem vir para cima eles que venham. Antes de ser gay, sou homem. Se eles quiserem dar porrada eu vou descer o cacete. Não estou incitando a agressão”, disse Felipeh, que não esta frequentado estádios por conta das ameaças que vem recebendo pela internet.
Na web, alguns corintianos estão ameaçando o criador da Gaivotas por conta da comparação que estão fazendo com a Gaviões. Também foram criadas páginas nas redes sociais com o nome 'Gaivotas Fiéis' e "Gaivotas DA FIEL'. "Nenhuma delas é oficial. A oficial ainda será criada", disse Felipeh, que pretende confeccionar camisas oficiais da torcida gay. "Mais de 500 mil pessoas querem se associar a Gaivotas".
“Se alguém não der o primeiro passo... Quem disse que gay não pode ir a estádios de futebol, não pode torcer e participar do futebol brasileiro?", indagou Felipeh.
Memória
Não é a primeira vez que uma torcida do Corinthians se envolve com o tema homossexualidade. Em agosto deste ano, a Polícia Civil informou que chamaria o jogador Emerson Sheik e a Camisa 12, respectivamente jogador de futebol e torcida organizada do clube, para falarem sobre a polêmica envolvendo a publicação da foto do atleta nas redes sociais dando um selinho em um amigo.
A Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância (Decradi) queria saber do atacante se ele deseja fazer uma representação contra alguns torcedores que o teriam ameaçado depois do beijo que deu em Isaac Azar, dono do restaurante Paris 6, nos Jardins.
A Decradi investigava cinco integrantes da Camisa 12 por suspeitas de ameaça contra Sheik e homofobia contra a presença de gays no time. Além da ameaça, os investigados também poderiam responder por injúria, que necessitaria de uma queixa-crime por alguém que tenham se sentido ofendido pelos comentários homofóbicos dos torcedores.
O atacante ou os representantes da organizada não foram encontrados para comentarem o assunto. O atacante corintiano, que se declara heterossexual, se tornou alvo de protestos de um grupo ligado à torcida organizada na segunda-feira (19) ao postar no dia anterior no seu perfil, no Instagram, uma imagem dele beijando o amigo.
Enem 2013: Questão aborda ampliação dos direitos dos homossexuais
Publicado pelo O Globo
No ano em que o Brasil viu conservadores da bancada religiosa e progressistas da bancada dos direitos dos homossexuais se digladiarem na Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados, presidida pelo pastor Marco Feliciano (PSC-SP), uma questão da prova de Ciências da Natureza abordou exatamente a conquista gradual de direitos do público LGBT. Veja aqui o gabarito extraoficial do primeiro dia de provas.
O enunciado trazia o relato de um cidadão americano contando como ele foi testemunha das mudanças jurídicas e de costumes na sociedade dos EUA ao longo dos últimos 40 anos. Segundo o texto, gays e lésbicas eram proibidos de se casar e alguns homossexuais - não assumidos - em posições de poder chegavam até a prejudicar seus semelhantes. A questão pedia para que o aluno explicasse quais foram as condições necessárias para a dimensão política de transformação sugerida pelo relato do americano. Seguem as opções de resposta:
a) ampliação da noção de cidadania
b) reformulação de concepções religiosas
c) manutenção de ideologias conservadoras
d) implantação de cotas nas linhas partidárias
e) alteração da composição étnica da população