Os
textos apresentados nesta seção buscarão ilustrar situações, angústias,
problemas e experiências vivenciadas por alguns
homens gays. Não existem experiências universais, comuns a todos os homens
gays, cada um de nós é constituído e atravessado por diversas características
que tornam a sua experiência única. Nossa principal ideia aqui é pensar em
possibilidades de enfrentamento para as questões aqui representadas, que
em menor ou maior grau podem ser semelhantes com alguma das histórias
vivenciadas por você. Essas histórias não são uma representação literal de
histórias reais e sim textos fictícios.
O Dr. Alexandre é formado em
Psicologia pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Atua como
psicólogo clínico no Espaço Recontar na região de São José / SC. Fundamenta seu
trabalho pelos princípios da Psicologia Sistêmica. Compreender os fenômenos
psicológicos sistemicamente significa, literalmente, “colocá-los” dentro de seu
contexto, estabelecendo a natureza das suas relações.
Você pode fazer perguntas e
sugerir temas que nosso psicólogo responderá com todo prazer.
Bem, vamos ao tema de hoje:
Sofro violência emocional mas não consigo deixar de amá-lo
Alexandre de Souza Amorim, Psicólogo
alexandreamorim17@hotmail.com
Eu realmente não sei se esse meu e-mail
é um pedido de ajuda ou apenas um desabafo. Eu namoro com um cara há 3 anos, já
terminamos umas 10 vezes, mas eu não consigo ficar longe e faço de tudo para
ele voltar. Ele nunca foi fiel e essa foi a razão principal dos nossos
términos. Quando estamos bem nos divertimos, somos felizes e muito amorosos um
com o outro. Mas nem sempre é assim, ele é bastante agressivo com as palavras.
Acho que sente um certo prazer em me humilhar na frente de nossos amigos pois
ele me ofende sem dó nem piedade. Também costuma jogar a culpa em mim dos
nossos problemas e não me apoia em nada do que eu faço. Eu me sinto triste, sei
que isso é violência emocional e psicológica mas eu o amo e não consigo deixar
de amar. Por que ele faz isso comigo? O que eu faço ou sou que me torna desse
jeito, uma pessoa que não consegue reagir?
Ezequiel, 27 anos
Olá
Ezequiel. Houve um tempo em que, erroneamente, associávamos as vítimas deste tipo
de violência a pessoas (principalmente mulheres) com pouca escolaridade, sem
independência financeira e nenhuma rede de apoio. Era como se apenas as
mulheres que eram financeiramente dependentes dos maridos pudessem ser vítimas
dessa crueldade.
Com
o desenvolvimento de teorias e pesquisas sobre o assunto foi possível perceber
que não. Afinal, as vítimas podem ser quaisquer pessoas de qualquer
escolaridade, etnia, classe social ou condição financeira. Ou seja, pode ser um
homem heterossexual muito bem informado e com uma extensa rede de suporte. Pode
ser a sua vizinha trans, médica brilhante e de uma excelente condição
financeira. Pode ser aquele primo gay que é psicólogo, muito querido pela
família e tão bom em aconselhar e ajudar seus pacientes. E quem sabe até o seu
ator de Hollywood favorito.
A
violência emocional ou psicológica é como um veneno silencioso, que não deixa sinais
visíveis, e que vai consumindo a autoestima, vai gerando o desespero, vai
aprisionando a pessoa em uma prisão invisível.
Esse tipo de violência é exercido de
diversas maneiras, pode ocorrer por meio de insultos
e xingamentos; menosprezo,
quando a pessoa insiste em fazer você se sentir inferior, levando-o a sentir-se
inútil; censura, quando o
agressor insiste em apontar para você dizendo que você está sempre errado e não
consegue fazer nada direito; possessividade,
quando o agressor controla seu dia, sua aparência, suas prioridades; ameaças de abandono ou agressão física; extorsão,
quando o agressor usa algo para tirar vantagem em benefício próprio; isolamento, quando impede seu
contato com amigos, familiares e colegas.
Esses
são apenas alguns, considerados os meios graves. Além desses, há outros
comportamentos mais passivos, tais como a culpa,
quando o agressor tenta fazer você se sentir mal por algo que está fora de seu
controle; a desaprovação,
quando diz sempre que você não é bom o suficiente do jeito que é e
provavelmente nunca será bom o suficiente; fofoca,
quando se fala negativamente ou com pena de você pelas suas costas para pessoas
que te respeitam; sabotagem,
se recusa a ajudar você em suas realizações; imposição, quando sempre diz o que você deve e não deve
fazer.
Há
pesquisas que chamam atenção para o fato de que pessoas que sofrem violência
psicológica podem se tornar também violentas ou podem se afastar da convivência
social como uma forma de fuga. A vítima pode desenvolver quadros clínicos de
depressão ou ansiedade, por exemplo. Uma das tarefas mais difíceis é reconhecer
e identificar, que aquilo que a pessoa que tanto amamos nos faz sentir é uma
violência grave.
Mas
é possível sim romper as correntes e deixar esse ciclo vicioso. Nós que estamos
“de fora”, enquanto sociedade temos um papel importante também, de denunciar o
agressor e apoiar a vítima. É preciso estar “lá”, mostrar que a vítima não está
sozinha e não julgá-la, principalmente por que não sentimos na pele o terror e
a dor que essas pessoas vivenciam no seu dia a dia.
Quanto
as vítimas de violência psicológica, elas devem ser encaminhadas a tratamento
psicológico. Entre as muitas consequência, essas pessoas podem estar sofrendo
com a insegurança e a baixa autoestima geradas por relacionamentos como esses.
Por esse motivo, um acompanhamento profissional adequado é indispensável, bem
como o apoio de familiares e amigos. Entendo que às vezes o medo do julgamento
e as críticas das pessoas a nossa volta é muito grande, mas é somente com a
ajuda dos amigos e familiares mais próximos é que se pode sair mais rápido
dessa situação.
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